sábado, 22 de agosto de 2020

Necropolítica eleitoreira


Está bem claro à esta altura o que ocorre no Brasil. Cabe recapitularmos um pouco para que consigamos ver o cenário como um todo. Comecemos pelo fato de uma pandemia se espalhar pelo mundo e atingir o nosso país no miolo.

A sequência dos fatos se dá com uma total apatia e omissão do Governo Federal para lidar com a situação e dar suporte sanitário e monetário à população. Aos poucos, de março pra cá, o governo estica a corda em prol de ignorar o vírus e manter a vida normal, como se nada tivesse acontecido. De pouco em pouco, o debate se divide.

Na inércia de tudo, com o atraso por uma solução, a oposição propõe um auxílio emergencial. O governo oferece 200 reais de auxílio e, numa briga política, os oposicionistas conseguem elevar para os 600 reais que todos já estão acostumados. Convém se repetir: não é uma proposta do Executivo.

LOJA VIRTUAL | E cuidado com o sal

O auxílio é seguido de cadastros, filas imensas, muita burocracia e espera, isso para pessoas que estão passando fome. Em contrapartida, ricos, milionários, membros do Exército e até funcionários em cargos comissionados conseguem receber seus seicentinha para torrar como bem entenderem.

Empresas quebram, pessoas perdem o emprego, e nada é feito para lidar com a situação. Em paralelo, a doença avança, porque não há um protocolo central padronizado que enfrente a pandemia unindo Governo Federal, Estados e Municípios. Cada Estado cria sua maneira de combater, com autorização do STF, pela apatia do presidente da República, que demite dois Ministros da Saúde que tentam fazer seu trabalho corretamente. A partir daí, os municípios se digladiam com os Estados, criando um abre e fecha constante, que faz com que a economia não consiga decolar para se estabilizar novamente e recuperar empresas e empregos.

LOJA VIRTUAL | O homem e seus demônios

No meio do caos, quem passa fome, quem perde emprego, quem perde a empresa, só tem um pensamento e este pensamento não é preservar vidas, porque, na prática, as suas vidas, por falta de auxílio governamental, já não estão sendo preservadas. Este sentimento só muda se a pessoa ou alguém muito próxima se infecta com a Covid-19. Ninguém é mau, cabe dizer, só se envenenaram de um sentimento oriundo das necessidades que apareceram profissionalmente, afetando diretamente a vida de suas famílias. É desespero puro.

Para exemplificar, por mais que a aprovação do Bolsonaro seja a pior de um presidente eleito neste período, sua avaliação positiva cresceu, isso por dois motivos: um, o citado acima, de que boa parte da população, pela necessidade, abraçou o discurso contra o isolamento social; segundo, pela população acreditar que o auxílio proposto pela oposição seja uma proposta do Executivo.

Com a apatia do Governo Federal, coube à oposição, leia-se a esquerda, fazer o papel do governo e agir para alertar a população aos cuidados com o vírus e criar um mecanismo de suporte. Assim, hoje, num momento pré-eleição, já ficou muito claro qual a tônica para captação de votos, caso o político não se alinhe com a esquerda e precise de capital político para se eleger só a um caminho: abraçar a extrema-direita e ir na contramão da lógica científica e na contramão da preservação das vidas para com a Covid-19, no maior ato de necropolítica eleitoreira.


www.fernandorisch.com.br


 

  

Um comentário :