sábado, 20 de junho de 2020

Não estou convencido sobre a gravidade dos fatos


Ainda estou refletindo se isso é grave ou não. Tende a ser, mas não parece muito. Ajudem-me, leitores. Prenderam Fabrício Queiroz. Aquele mesmo Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro, ex-assessor, ex-motorista, ex-faz-tudo de Flávio Bolsonaro na Alerj. Na quinta-feira, em um irônico sítio em Atibaia, encontraram o Queiroz, o Wally brasileiro.

Desculpe se minhas palavras não forem incisivas, ainda busco entender se este fato é grave ou não. A propriedade onde o encontraram é do advogado Frederick Wassef. Para quem não o conhece, Wassef é o advogado de Flávio Bolsonaro no caso que envolve o próprio Queiroz, acusado de montar um esquema de rachadinhas com funcionários laranjas e fantasmas no gabinete do senador, quando então deputado estadual. 

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Em entrevista à jornalista Andréia Sadi, há um mês, quando Wassef fora questionado sobre onde estava Queiroz, o advogado disse não saber. Em uma live com jornalistas do UOL, quando o jornalista Tales Faria lhe disse “Se Queiroz não tem importância nenhuma, ele poderia aparecer”, Wassef respondeu “Eu também acho, eu também acho”. Segundo a polícia, o caseiro da residência admitiu que Queiroz residia no local há mais de um ano. Veja bem, estou apenas relatando uma esteira de fatos. Ajudem-me a saber se isso é grave.

Além do esquema de rachadinha, Queiroz tem uma ligação com a milícia do Rio das Pedras, onde o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega comandava o chamado Escritório do Crime. Para quem não lembra, Adriano recebeu condecorações de Flávio Bolsonaro na Alerj, entre elas a Medalha Tiradentes, maior honraria do Rio, quando o miliciano estava preso. Jair Bolsonaro também defendeu Adriano, logo após ele ser preso por assassinato. 

Adriano Magalhães da Nóbrega teve sua mãe e sua ex-mulher alocadas no esquema de rachadinha comandado por Queiroz no gabinete de Flávio Bolsonaro. Além disso, o dinheiro das rachadinhas no gabinete de Flávio era usado para financiar prédios irregulares da milícia do Rio das Pedras, comandada por Adriano. Em fevereiro, Adriano foi morto em sua residência, em uma ação policial na Bahia, uma operação que falava em troca de tiros, mas que, na prática, foi resolvida com um singelo tiro na cabeça. Chame isso do que quiser. Na ocasião, Flávio Bolsonaro chegou a publicar um vídeo nas suas redes sociais da suposta autópsia de Adriano para comprovar que sua morte ocorrera de um embate com a polícia. Para constar, a título de curiosidade, o advogado atual de Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, era o mesmo de Adriano Magalhães da Nóbrega.  

Uma coisa curiosa sobre a milícia do Rio das Pedras é aquele caso em que a polícia achou uma centena de fuzis no condomínio Vivendas da Barra, na casa de Ronnie Lessa, um ex-PM que fazia parte do Escritório do Crime, o mesmo de Adriano. Ronnie é um dos assassinos de Marielle Franco. A casa ficava na mesma rua da do presidente Jair Bolsonaro e a filha de Ronnie, segundo consta, tinha ligação com Renan Bolsonaro, um dos filhos do presidente. Um detalhe importante sobre a morte de Marielle é que ela, na ocasião, trabalhava com um grupo de Rio das Pedras que tentava impedir a construção de novos prédios irregulares pela milícia na região.

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Voltando ao Queiroz, sua filha, Nathália Queiroz, era funcionária em cargo comissionado do gabinete em Brasília de Jair Bolsonaro, quando deputado federal. Enquanto isso ocorreu, ela dava aulas em uma academia no Rio de Janeiro, sem nunca ter pisado no gabinete. Queiroz também é conhecido por ter depositado um cheque polpudo na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. 

Uma curiosidade, agora falando sobre o advogado, é que Fred Wassef também é advogado pessoal de Jair Bolsonaro no inquérito do atentado sofrido pelo presidente na eleição de 2018. Além disso, é um habitué do Planalto. Nesta última quarta-feira, por exemplo, Wassef esteve na posse do novo Ministro de Comunicações, Fábio Faria. No domingo, segundo a agenda oficial da Presidência, Bolsonaro se reuniu com Wassef entre às 14h15 e 14h30. Em entrevista para a Rádio Gaúcha, no dia 28 de abril, ele disse o seguinte: “Eu estou no dia a dia aqui com o presidente e com a família Bolsonaro. Eu conheço tudo que tramita na família Bolsonaro”.

Nada disso ainda me convence de que esta prisão de Queiroz seja grave. Cheguei a este fim sem uma conclusão. Não sei, não estou convencido. Sei que eu não sou ninguém para exigir isso, mas talvez Fabrício Queiroz pudesse falar o que sabe, vir a público ou em um depoimento para a polícia. Quem sabe assim eu me tranquilize e possa dormir com a certeza de que não há nada grave envolvendo o presidente e sua família.








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