sexta-feira, 4 de março de 2016

Pintei-me de petista no pobre diálogo político do Brasil

Na politização dicotômica que vive o Brasil, todos têm que optar por um lado. Não que isso esteja certo, e não está, mas o que a realidade nos mostra é que há apenas duas opções de escolha, dois extremos que brigam com argumentos dos mais fulos para tentar derrubar o outro. É o comunista versus o golpista. Não existe meio termo.

Sinto-me parte disso. Nessa briga, fiquei do lado vermelho dos comunistas, mesmo que essa escolha acabe por contradizer o que eu realmente acredite. Eu explico. Um exemplo fácil é o da defesa da presidenta Dilma Rousseff. Defendi, como ainda defendo, com uma cega convicção, a legalidade do governo de Dilma, por mais que eu não concorde com minha própria defesa, por mais que minha satisfação com o Governo Federal beire ao zero.

Mas tive de defendê-la, mesmo que não quisesse. Isso porque a oposição apresentada não era satisfatória, mais que isso, era estúpida, vaga e extremada (assim como a defesa a qualquer custo de Dilma também é, o que não prego). Com dois meses de governo reeleito, os oposicionistas derrotados já marchavam pelo impeachment – um ato, no mínimo, precipitado, com tons de revanchismo frente uma eleição derrotada por números tão próximos.

Qualquer posição minha que se mostrasse fora de uma defesa à atual presidenta, me colocaria do outro lado, do lado do impeachment – um mecanismo constitucional, mas que, pedido e forjado naqueles moldes, tinha cheiro de golpismo. Defendo a legalidade do governo de Dilma, até ser julgada culpada por razões concretas – assim como a qualquer político/civil.

Meu meio termo, no qual eu propunha um diálogo sobre o que realmente acontecia no Brasil, nunca existiu. Virei petista aos olhos dos outros, virei comunista. Não sou nenhum dos dois, mas menti várias vezes que era, pois se não o fizesse, já sabem, estaria do lado de lá.

E falando do lado de lá, creio que pessoas que se identifiquem mais com a direita, que são contra o péssimo governo da petista, talvez tenham tido o mesmo posicionamento que eu: provavelmente achassem o impeachment naqueles termos algo grotesco, mas tinham de endossá-lo, ou senão estariam do lado de cá, dos comunistas defensores do indefensável.

O diálogo da política brasileira funciona assim: fora os fanáticos, todos mentem sua ideologia, ninguém propõe a conversa aberta, franca e, principalmente, banhada de bom senso. Temos que mentir que somos extremos àqueles que nos opõem, ou nos tornaremos eles. Vivemos de indignações seletivas, onde apenas a corrupção que nos convém faz-nos bradar palavras de ordem. Ou melhor, todas nos indignam, mas gritamos apenas por aquelas que não afetam nosso lado da estúpida dicotomia política.

O brasileiro precisa acordar para si e começar a falar a verdade, propondo diálogos mais inteligentes, menos extremados e, principalmente, menos violentos. Sem paciência ao debate, vendo o cotidiano engolir o cidadão, propostas imediatistas tomam corpo e líderes vazios, que dizem muito, sem solidez argumentativa, acabam ganhando força em uma sociedade afobada e irritada.

Nunca se precisou conversar tanto e tão francamente no Brasil, com propostas de diálogos abertos e moderados, sem o grilhão do extremismo idiossincrático para atrapalhar. Nunca o Brasil esteve tão perto, nos últimos 30 anos, de um precipício perigoso, onde o próximo passo parece ser a última chance de salvar a pátria, mas que pode ser o primeiro para levá-la a um passado que nunca deveria ter sido esquecido, mas sempre lembrado – para que nunca o repitamos.