quarta-feira, 1 de junho de 2016

Eu realmente gostaria que Michel Temer fosse bom

Na nossa queda de braços ideológicas, na nossa incessante busca por ter razão, eu realmente gostaria de estar errado. Eu queria poder aplaudir quem outrora tripudiei, mas o tempo pontua os fatos com clareza e a única frase que encontro dentro de minha lamúria é um grande “eu avisei”.

Não entrarei no mérito sobre a legalidade das ações que levaram Michel Temer à presidência do Brasil, mas suas ações assim que assumiu o cargo interinamente. Quem pensou em uma espécie de renovação nacional, oxigenando a alta cúpula do poder com sangue novo e medidas progressistas, se viu num vortex do passado.

Posicionei-me sempre contra o impeachment, por razões já exploradas em outros textos, neste mesmo espaço, das quais não abordarei, mas assim que de fato se consumou o afastamento temporário de Dilma Rousseff, minha chave girou, me colocando num brete de contradições.

Ao mesmo tempo em que me sentia enojado pelo circo criado em volta do processo de impedimento, eu esperava que os distúrbios cessassem, que Temer, no fundo daquela carapaça de mordomo, pudesse tirar coelhos da cartola e mostrasse-nos um Brasil que até agora ninguém via.

E, de uma forma torpe e desajeitada, mostrou. Trouxe-nos um Brasil esquecido, invisível pelo varrer da história. Um Brasil arcaico, branco, machista e, principalmente, fundamentalista. Um misto de figurões postos à margem do tempo na política brasileira com uma tropa evangélica moralista, pronta pra tecer aos outros aquilo que convém a si.

Com uma equipe formada só por homens brancos, os reacionários, no seu instinto de reação, já alegavam frente às críticas, em jocosas comparações, que os Ministérios não eram os Power Rangers para terem diversidade de cor e sexo; Ministérios eram, diziam, coisa séria, onde os mais competentes deveriam assumir suas respectivas pastas – desde que fossem brancos e homens.

Em duas semanas, dois ministros já foram afastados, devido a áudios vazados, mostrando a intenção dos comparsas de Michel Temer de tentar frear a operação Lava-Jato. Em duas semanas, o Ministério da Cultura foi extinto e recriado, sob o chicote popular. Em duas semanas, o que antes apenas parecia golpe, nos golpeou a face com mais força do que podemos aguentar.

Temer não tem nada de progressista, é um dinossauro forjado no passado e que vive no passado. Um possível retorno de Dilma não garante muita coisa, como Temer não garantiu, mas, pelo menos, dentro de toda sua gama de defeitos, a petista não se vê voltada ao passado, mas sempre em frente, não às pontes do futuro, forjadas com água do mar pelo Governo do peemedebista.

O fato é que eu realmente gostaria que Michel Temer fosse bom e propusesse mudanças não apenas na economia, mas sociais. Porém, infelizmente, apenas comprovou o que todos já sabiam. Agora, de cócoras, enquanto apanho, só me resta dizer: eu avisei.







4 comentários :

  1. Os escândalos estão dos dois lados, antes do afastamento fa Dilma e depois dele também,com o início do governo interino. E não vão parar,pois é o mesmo governo corrupto, não basta o bom é velho oportunismo do "eu avisei", quando o "avisado" era certo, também é errado dizer que Dilma olhava para o "futuro", diga-se que até soa bizarro, visto que trata-se de uma pessoa sem experiência política alguma, sem aquela flexibilidade que se espera, até mesmo da pra dizer que é uma pessoa sem a característica da liderança. Sejamos francos, falta tanto a Temer quanto falta a Dilma um diferencial, por lógico, ambos estao na mesma linha, chegaram juntos, não se esperava menos do que fossem tão sem representatividade. Ministério é cargo político,esperar que alguém ali seja um grande tecnico é desconhecer o sistema, já que os técnicos estão lá! Só que como subalternos, mas estão lá, mas ministério é e deve ser um cargo político, afinal, representatividade nos temos no congresso nacional, lá estao brancos, negros, homossexuais, deficientes físicos e etc., E mais, não sejamos hipocritamente utopicos, querendo dizer que um governo interino mudaria o rumo revolucionariamente um sistema político, não, isso não existe e não vai existir, não importa quem lá esteja, governos fazem pequenas mudanças, grandes mudanças fazemos nós, exigindo que a lei seja cumprida, independente de posição ideológica, aliás, a nós, meros mortais, não cabe a escolha de "ideologia" política, escolher vermelho ou azul, esquerda ou direita, isso cega as pessoas, exatamente o que nossos governantes querem, que nós sejamos cegos de paixão por uma bandeira que a eles pertence, o que nos cabe,como cidadãos, é o escolher o melhor para determinado momento, gerando ciclos ideológicos, mas isso, como tu disse, é outra discussão. No fim, são grandes discussões, que não cabem nem no teu post, nem nesse humilde comentário... segue firme no teu trabalho, abraços.

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    1. Gostei do teu contraponto, mas algumas coisas: 1) o Governo interino fez mudanças significativas - ao meu ver, retrógradas - logo que assumiu o posto. Por mais que na prática as mudanças demorem a sutir efeito, pode-se mudar muito em pouco tempo; 2) sentido de "olha em frente" de Dilma é uma relação mais orgânica, como a pluralização dos Ministérios. Dilma, sim, não tem traquejo político e, sim, foi desastrosa em suas políticas econômicas, visando o consumo e esquecendo a produção; 3) Ministérios podem ser cargos políticos na prática, mas não devem. Ministro dão as ordens aos técnicos, então eles que decidem, junto à presidência, as ações a tomar. Os Ministérios jamais deveriam ser vistos como cargos simplesmente políticos, visto que o Ministério da Fazenda jamais será dado a um simples leigo, por simples afinidade política e com a justificativa que os técnicos do Ministério farão todo o trabalho. Quanto o sexo e etnias dos ministros: por mais que haja todo o tipo de pessoa trabalhando nos Ministérios, o cargo do ministro é o mais importante e que está ligado diretamente ao presidente. Mulheres, negros e homossexuais devem ocupar grandes cargos na política brasileira - arraigada no machismo branco de sempre; 4) quanto à ideologia de "não ideologia" que pregaste, discordo completamente. Acho que essa falta ideológica é o que mais interessa aos políticos. Ninguém tomando partido por nada, com lutas ocas, como uma aleatória passeata "contra a corrupção". Ninguém precisa levantar a bandeira de um lado, a esquerda e a direita tem coisas positivas e negativas, mas o centro, que caracteriza-se, por exemplo, o PMDB, mostra-se um partido sem rosto e sem representatividade nas ruas - mesmo sendo o maior partido do Brasil. Enfim, muito bom o teu comentário. Abração!

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    2. É, não chega a ser uma discussão, ou bate-boca. O que existe são posicionamentos, tu com o teu, eu com o meu, a Dilma com o dela e Temer com o dele. Não estamos politizando a discussão para tornar um "debate", até porque é difícil fazer isto dentro da politica sem que vire discussão (o mesmo servo pro futebol, que eu vi que tu faz bastante analogias), então, não há o que rebater o que tu expuseste, porque, como dito, é o teu ponto de vista! Coisa linda esta tal de democracia! Só acho que, no ponto 4", ambos concordamos. Eu me referia a "ideologia politico partidária", pois ideologia todos temos, é algo que não pode ser vinculado do nosso ser, me refiro ao cara que, ao invés de sair pra rua defender a ideia de tal governo/partido (a ideologia que este aplica), sai para defender a pessoa ou a bandeira, enfim, acho que acreditamos no mesmo quanto a este ponto, já nos outros, não há o que contrapor, já que, como dito, foi só uma exposição das minhas ideias e tu das tuas. Abração!

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